segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Confissão

Um acontecimento trágico no final de semana trouxe a tona questões de que a vida é muito curta, um sopro como diria o pensador, num sopro podemos deixar de estar aqui. Inevitável pensar que às vezes ficamos deixando de viver coisas por inúmeros motivos, sem saber que no instante seguinte podemos não mais estar aqui. E isso me pegou de maneira especial, porque há coisas que gostaria de viver, de dizer e não faço, nem digo, e como não tenho coragem de fazer pessoalmente, resolvi "me declarar", como eu imaginaria que seria eu  te contando toda a verdade.

"Querido,

Sei que não espera o que vou te dizer, mas preciso que você ouça com atenção e depois esqueça que essa conversa existiu. Preciso confessar algo, pelo simples fato de não caber mais dentro de mim, nada além disso, pois não tenho qualquer pretensão ou expectativa de nada, só achei que você tinha direito de saber que você é muito amado.

É, é isso mesmo, amo você! Mas esse sentimento é meu, não espero nem desejo correspondência e se omiti isso de você até hoje é porque não queria que minha atitudes em relação a você fosse confundidas com mero interesse, porque minha admiração, carinho e respeito independem dos meus sentimentos amorosos e sempre foram muito reais. Não sei dissimular ou criar personagens, sou transparente demais.

Nunca falei nada porque não havia porque falar, não queria estragar esse laço bacana que criamos, não queria que essa relação perdesse a espontaneidade  e que ficasse aquele "clima estranho", eu já vivi isso, não estava disposta a viver novamente. Guardei apenas para mim esse sentimento porque tenho plena consciência que não posso esperar nada dele, que ele já nasceu fadado ao insucesso e que eu não poderia me enganar.

Te amei em silêncio e mesmo sentindo muito por isso, sabia que o pouco que tinha de você era mais do que suficiente e era tudo que eu realmente podia ter. Então por favor, não me olhe como se eu tivesse cometido um crime, não pedi para sentir o que sinto e sinto há mais tempo do que você possa medir, não é recente, nem novo, nasceu há anos e ficou um tempo adormecido, porém quando voltou, voltou fortalecido, então não me culpe ou condene de querer te ter por perto, aqueles pequenos momentos eram tudo que eu podia ter de você e eram tudo que me fazia feliz, eu realmente me contento com pouco.

Não me acuse de ter te enganado, porque sempre fui eu mesma, não criei um personagem para te conquistar, não usei da minha proximidade para te assediar, aliás, desculpa, nem sei fazer isso, sou tão tola que apenas queria estar perto e aproveitei sim ao máximo todas as oportunidades que tive, todas as aberturas que você me deu, mas você há de convir comigo que sempre foi por amizade, não há nada que demonstre algo além disso.

Então, não me julgue e não se afaste, não tenho forçar para ficar longe de você, porque você é meu "porto-seguro", minha bússola, o lugar aonde encontro paz.

Enfim, te peço para não me isolar, mas entenderei se qualquer proximidade a partir de agora seja insustentável, é um direito seu. Sei que seria muito melhor continuar com isso só para mim, mas se estou te contando agora é porque talvez em algum lugar dentro de mim acredite que deixar tudo as claras vai me libertar desse sentimento e vai me permitir seguir em frente."

Tentei imaginar sua cara me ouvindo dizer isso, confesso: foi assustador! Então por hora, mesmo com tudo que aconteceu, você vai continuar sem saber o que se passa dentro de mim, o preço é alto demais e não estou disposta a pagar por ele, a vontade de contar sobre o que sinto, não é maior do que o sentimento em si, mas principalmente, não é maior do que a necessidade que sinto de estar perto de você, por mais breves e raros que sejam esses momentos.


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